sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Responsabilidade social


Quando li o texto me amarrei. Cada frase tocou as cordas de minha revolta como um violão e me fez lembrar de toda a minha indignação com aqueles que se dizem servidores públicos e servem seus próprios umbigos a mando do deus mamom. Se já não bastasse trazer à mente a figura dos políticos corruptos e de várias situações que já presenciei pessoalmente, ainda exemplifica outra atitude que para mim é deplorável: pessoas comprando sua paz social com 10, 15, 20 reais. Acreditam piamente que ao doar essa quantia estão quites com suas obrigações com o seu próximo e ainda se sentem participantes de alguma grande transformação social.

Concordo com cada linha sobre a irresponsabilidade do governo, que para cumprir seus interesses eleitorais, que com certeza é perpetuar o domínio da classe dominante e a escravidão do povo não se envergonha em manter um Brasil ignorante, desde que o dinheiro continue nas mãos dos “de sempre” e de seus descendentes. É revoltante perceber que estamos sendo usados em prol do enriquecimento daqueles que nos dominam. Soma ainda saber da esperteza da Rede Globo, que usa da dita filantropia em prol de vantagens econômicas, trazendo às nossas casas uma cambada de atores fazendo o show filantrópico, usando da culpa daqueles que sabem que são aleijados sociais.

Lendo o texto além da revolta despertada, também se acendeu uma luzinha amarela em minha mente. Cuidado! Lembrei de uma situação narrada há muitos anos atrás, que conta a história de Adão e Eva. Ambos, cheios de vontade de receber o benefício de um tal fruto, comem mesmo sabendo da ordem clara de Deus. Quando Deus, sabendo da gula voluntária pergunta a Adão o que houve, ele imediatamente dispara: “Senhor, a mulher que tu me deste”. Ele é rápido em passar a sua responsabilidade a outro, sem nenhum escrúpulo do outro ser o próprio Deus, pois assumir seria reconhecer que havia necessidade de arrependimento genuíno. Quando Deus também pergunta a Eva sobre o ocorrido não foi diferente. Ela rapidinho tenta abster-se da culpa jogando-a para a serpente! A serpente devia ser muda, ou como um ser mais sábio que o homem, assumiu a sua parte e colheu os seus frutos.

Após pensar um pouco sobre o assunto o sinal amarelo tornou-se vermelho, pois novamente vi a mesma situação de sempre. O jogo de responsabilidades. Jogo que não começou nos políticos, mas sim na mãe, que irresponsavelmente colocou seus filhos no mundo, esperando a benevolência daqueles que querem aplacar sua consciência. Não move uma palha para dar aos filhos uma oportunidade, mas usa-os como moeda para conseguir as migalhas mesquinhas dos mesquinhos de plantão. Passa depois a esses mesquinhos, que nunca olharam nos olhos uma criança com fome na vida, pois quando passam perto de uma viram os rostos enojados. Mas na Rede Globo não, lá tem um bando de atores e atrizes lindos, cantores famosos com as músicas da moda. A doação soa como se fosse para aquela pessoa tão conhecida e amada. Não tem aquela imagem horrenda de um menino marginalizado, doidinho para te roubar, pois não aguenta mais não só a fome, mas o desejo de andar em um carrão, de ter o tênis de marca, de sair da favela. Nesse círculo temos ainda as instituições de caridade que gastam mais dinheiro para se manterem, divulgarem seus trabalhos, do que para agir em sua tarefa fim. Não finaliza na Rede Globo que aproveita tudo isso para melhorar sua imagem e ainda ter um desconto no leão, mas nos esclarecidos que usam toda essa sujeira para absterem-se de sua responsabilidade social, repassando-a a outros e dormindo tranquilos.

Todos gostam de tratar os desajustados sociais como uma escória sem rosto, sem nome. É mais fácil suportar a miséria quando ela não tem uma identidade; é apenas um número nas estatísticas. Para alguns, essas crianças valem menos que seus cãezinhos, que têm nome, pedigree, lar, comida e afeto. Talvez, apenas talvez, se essas madames que criam seus cachorrinhos cheios de dengos acompanhassem a história de um desses meninos, soubessem o nome, como ele é criado, as torturas físicas e emocionais que eles passam, muitas vezes dentro de seus lares, por aqueles que deveriam cuidar e proteger, elas ficariam tentadas, mesmo que por pena, a esquecer essa história de Criança Esperança, ou da pseudo-responsabilidade do governo e se envolver não com suas finanças, mas com misérias do seu tempo. Mas o que fazer com o medo? Medo de ser passado para trás, de ser roubado, de ser criticado; melhor ignorar e buscar a desculpa que o se o governo não faz, não posso fazer nada, ou contribuir com os miseráveis atrás dos rostos de atores Globais; muito mais agradável do que ter contato moleques ramelentos.

Temos sim responsabilidade como seres humanos de cruzar a vida das pessoas e fazermos diferença. Como disse o Júnior, não terceirize sua responsabilidade para o governo, o Didi, ou qualquer outra instituição. Seja você aquele que olha nos olhos, chama pelo nome e é lembrado porque se importou. Você acha que um moleque na rua, no fim do dia se lembra de todos os que lhe deram esmola? Mas experimente parar, perguntar o nome, se estuda, como está a saúde da mãe, se tem irmãos. Arrisque-se a participar daquele momento como um ser humano completo, não como um banco onde ele efetua um saque social. Traga o menino a humanidade contigo, afinal ambos são pessoas com carências, lutas e aflições. Acima de tudo abençoe com sua atenção e se possível supra alguma necessidade. Garanto que ao chegar em casa ele contará a mãe e aos irmãos a história de um cara legal que encontrou na rua. Haverá uma marcar de esperança e humanidade em seu coração.

Para aqueles que não querem se envolver lembrem-se que essa dívida será cobrada de você ou de seus descendentes. Quando desumanizamos uma pessoa nos tornando o supridor financeiro de miseráveis sem face, não podemos reclamar que essas máquinas de receber dinheiro venham cobrar cada vez mais, afinal ela cresce, assim como as suas necessidades. Ao se deparar com um revólver em sua cara, pense em como o presidente não fez nada, em como os deputados não fizeram nada, e se por acaso ele puxar o gatilho; arrependa-se de nunca ter feito nada.

"Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes. Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim.” Mt.25:42-45

“É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.” Artigo 4 do estatuto da criança e do adolescente.

2 comentários:

  1. Nossa, Marcos!
    Você estava inspiradíssimo ao escrever essa réplica.
    Não coloquei na minha carta o trabalho que desenvolvemos com crianças num bairro, aqui de Rio Branco, chamado Belo Jardim. São mais de 150 crianças. Não coloquei também o trabalho de recuperação de dependentes químicos que permanece mesmo com o falecimento de minha mãe, que era a mais envolvida...
    Talvez, por já me sentir sobrecarregada com minha família e com as ações sociais que desenvolvemos aqui, é que me senti "estorquida" com tantas cartas pedindo mais dinheiro...
    Sabe aquela sensação de "não aguento mais"???
    Foi o que senti e coloquei no papel...
    Um abraço

    ResponderExcluir
  2. Prezada Eliane:

    Bem, para doar por obrigação, não deveria nem perder seu tempo, guarde seu suados Reais para você e sua família gastarem com aulas de tênis... Pessoas pedindo doação vão existir muitas, cabe ao bom doador respeitar todos os pedidos e doar o que pode e de coração, quando não puder mais doar deixe para outra pessoa que doe com coração e continue seu trabalho. Não adianta manter centro disso e daquilo, ajudar alguém aqui ou ali só para tirar o peso das costas e poder dormir a noite e quando receber mais um pedido de doação estourar de revolta e soltar os cachorros em cima de quem esta pedindo... Pense bem e doe de coração, caso contrário nem doe só para depois sair esfregando na cara de quem você doou que além de já ajudar algumas pessoas ainda vem mais um para pedir... Peço por gentileza que não doe mais, pois é capaz da pessoa que comer um prato de comida doado por você ter até uma indigestão como eu tive com sua carta e seus comentários espalhados pela internet.

    ResponderExcluir

Gostou? Comente!
Não gostou? Comente também!

O engano do “ide e fazei discípulos”

Não vou abordar os eventos históricos que culminaram em uma visão equivocada sobre o que chamamos de “ A Grande Comissão”. A intenção aqui é...

As mais lidas dos últimos 30 dias