quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Jesus não era evangélico

Fico a conjecturar, se houvesse um retrocesso na história e Jesus voltasse novamente, não entre nuvens do céu na parousia em poder e glória, mas, novamente como o singelo profeta da Galiléia, e visitasse as zilhões de igrejas espalhadas pelo planeta que se intitulam cristãs, se Ele seria simpatizante de algumas das denominações instituídas do nosso tempo. Com certeza os “conheço as tuas obras” e os “tenho, porém, contra ti” sobre esses agrupamentos ditos evangélicos, atingiriam dimensões colossais.

Ora, Jesus, uma vez entre nós outra vez, certamente usaria da mesma sabedoria que usou quando andava pela Terra, nas ruas da Palestina, não aderindo a nenhum dos postulados dessas denominações, das propostas das grandes corporações da fé e dos super conglomerados da religião, das igrejas-empresa que superestimam números, estatísticas e resultados de crescimento numérico, não se encaixando em nenhuma bitola teológica sistemática ou dogmática, não se deixando caber em nenhuma fôrma doutrinária.

Essa recusa de ser domesticado pelos chicotes dos domadores do circo da religião atual é a mesma reação com que Ele se negou intermitentemente em tomar partido por qualquer das facções religiosas, políticas e humanitárias de Sua época: Os fariseus, com sua sobrecarga de regras e manias de assepsia exagerada, se vendo como santos de pau oco; os saduceus, sacerdotes profissionais do templo, incrédulos mundanizados que não criam na vida sobrenatural e futura; os essênios, escapistas, fugindo do mundo e se refugiando em mosteiros no deserto, achando que eram os exclusivos filhos da luz, que todas as pessoas do mundo estavam nas trevas, e iam torrar no fogo do inferno; os pragmáticos zelotes, xiitas radicais que esperavam derrubar o Império Romano se utilizando da violência das armas; os herodianos, entreguistas, colaboracionistas, puxa-sacos da família de Herodes, rei fantoche marionetado pelo governo romano.

Com certeza Jesus, se voltasse ao nosso tempo e adentrasse pelas naves das igrejas evangélicas da atualidade, não se deixaria seduzir pela pompa de seus cultos, pelo aparato ofuscante da maioria de suas liturgias, com Cristo exposto no nome, nos hinos e nas pregações, mas sem Cristo na devoção do coração, e não se alumbraria com suas proposições arrogantes, suas insolências fundamentalistas, seus testemunhos mirabolantes, suas pseudo-curas dissimuladas, por seus eternos cabos de guerra doutrinários puxados pelos defensores ferrenhos do calvinismo e do arminianismo, suas ênfases maniqueístas dicotômicas e esquizofrênicas, sua doutrina triunfalista com promessas de céu na terra, seus argumentos furados de prosperidade a qualquer preço, cujo slongan ortoprático é: “Os fins não justificam os meios. Tudo por mim mesmo e pela causa da minha conta bancária”.

E mais, Jesus detectaria de cara, traços inconfundíveis dos partidos religiosos de seu tempo camuflados na igreja da atualidade como os novos fariseus, com suas igrejas repletas de líderes de mente reduzida e exclusivista, com suas reações preconceituosas contra quem é e pensa diferente; os novos saduceus hedonistas que querem sentir prazer sensual em seus cultos preparados para entreter e acariciar seus egos mimados; os novos zelotes, que condenam e violentamente matam sumariamente os que não pensam como eles; os novos herodianos que vivenciam um cristianismo camaleônico, mimético e diluído entre o amor obsessivo ao dinheiro e o compromisso com as causas reais do Reino de Deus.

Jesus se voltasse hoje, teria que chamar novamente novos seguidores retirados das ruas, homens simples, alijados pela igreja e pela sociedade, e agregaria gente sincera e inconformada de dentro das igrejas instituídas e fundaria uma nova igreja, à semelhança do que aconteceu a dois mil e poucos anos atrás.

Essa igreja, a nova comunidade que encarna Cristo, a nova sociedade alternativa composta de discípulos que desacreditam no cristianismo falido dos nossos tempos com toda a sua sobrecarga de patologia e esquizofrenia aguda, mas que, apesar dos pesares, ainda amam e insistem em seguir a Jesus.

MANOEL SILVA FILHO, CONSPIRADOR DO REINO, LÍDER DA COMUNIDADE ABRIGO R15 NO GENIZAH
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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Igreja e homossexualidade

Longe de mim tentar trazer uma solução para essa questão tão polêmica e delicada. Temos que lembrar que esse tema afeta diretamente a vida de pessoas e muitas delas podem ter um desejo profundo e verdadeiro de conhecer a Cristo. Não é possível tratar esse assunto de forma simplista, citando versículos bíblicos e fechando a questão de forma categórica, sem pensar em todos os desdobramentos sociais por detrás do assunto. Você pode perguntar: qual a ligação da sociedade com a posição da Igreja em relação a homossexualidade? Bom, muitas! O Brasil é uma nação em grande parte cristã. Seria a mesma coisa que questionar qual a importância da religião islâmica no papel da mulher no Oriente Médio. São escalas diferentes, mas a influência é comparável.

A sociedade e o governo devem ser laicos. O próprio Jesus disse que o Reino dele não era desse mundo. Logo, Jesus não quer um governo cristão, mas um governo que governe pelo povo, com justiça, independente de cor, raça ou credo. O Reino de Jesus já está estabelecido e se manifesta “dentro de nós”. Tentar aprovar leis que beneficiam partes da sociedade em detrimento de outras é totalmente contra o ensino de Jesus. Ele mesmo disse que o Pai faz nascer o sol sobre justos e injustos. Deus Pai, perfeito em santidade, o único que poderia fazer acepção de pessoas não o faz, quem dirá, nós. Portanto devemos lutar por uma sociedade justa, assim como justo é o nosso Pai celestial. Justa para mim, cristão e discípulo de Jesus, para o macumbeiro que recebe entidades, para o homossexual, para o budista, não importa; para todos.

O que dizer então sobre um casal, que constrói uma vida juntos, adquirem bens, dividem o que tem e o marido some deixando a mulher desamparada? Ou então, após a morte do marido a mãe dele toma os bens de sua nora, agora viúva, pois afinal, ele era seu filho. Inconcebível essa idéia, todos concordamos. Mas o que dizer se forem dois homossexuais, que juntos construíram uma vida? Qual o motivo de um deles não ter o direito sobre o que foi construído junto? Mesmo sem pensar que certamente a família já o abandonou pelo fato de ser homossexual e aparece apenas após sua morte, de olho nos bens. Devemos permitir a injustiça em nome de Deus? Será que Deus aprovaria algo assim?

E o que dizer de crianças que adotadas por casais heterossexuais são violentadas, abusadas, feitas de empregadas, alvo das frustrações dos pais adotivos? E das milhares de crianças que estão em orfanatos aguardando um lar? Qual o motivo para proibir 2 pessoas homossexuais que moram juntas adotar uma criança? Será o medo dessas crianças se tornarem homossexuais? Mas a maior parte dos homossexuais não são filhos de casais heterossexuais? A maior parte da violência infantil não é praticada por homens heterossexuais, na expressão mais brutal de sua masculinidade? Não defendo uma entrega indiscriminada de crianças a lares adotivos sem nenhum critério, mas sim, critérios de avaliação não baseados na sexualidade, mas sim capacidade de educação em um ambiente saudável fisicamente e afetivamente.

A igreja, como representante de Cristo na terra tem como dever implementar o Reino onde dever ser implementado: no coração dos homens. Pessoa a pessoa, fazer discípulos para Jesus que serão convencidos pelo Espírito sobre o pecado a justiça e o juízo. E esses, que vivem o Reino dentro de si, como parte da sociedade devem lutar pela justiça, pelo amor, pela verdade enquanto continuam com o trabalho de proclamar o Reino e servir seu Senhor. Enquanto não vivermos como discípulos de Jesus o mundo terá dificuldade de ver a Cristo. Parece que nossa vida com Jesus é tão chata que vivemos com medo que os próprios cristãos deixem Cristo em troca de outra coisa. Temos tanto medo que queremos aprovar leis que embasem nossa vida cristã, nossa fé. Queremos forçar a sociedade a ter o mesmo padrão que temos, mesmo ela não estando nem um pouco interessada naquele que nos ensinou esse padrão. Não parece loucura? Enquanto queremos forçar toda a sociedade a viver o que só conseguimos com a ajuda do Espírito Santo, esquecemos que Jesus disse que seríamos conhecidos pelo amor, não pela nossa lei. Quando Jesus veio a terra ele não mudou o regime do governo romano, mas mudou a vida de 12 homens...

Se a Igreja não deve moldar a sociedade às leis que regem seus fiéis, não podemos deixar de avaliar o outro lado: a sociedade querer mudar conceitos de um governo que não lhe pertence, o governo de Cristo sobre a Igreja. Caso isso aconteça teremos uma inquisição às avessas, onde os cristãos serão proibidos de viver sua fé pelo fato da sociedade adotar padrões majoritários diferentes do apregoado por Jesus. Um exemplo prático: para um cristão, o sexo antes do casamento é pecado, para a sociedade é perfeitamente aceitável e alguns defendem que é saudável. Poderia o governo proibir a Igreja de pregar sobre esse tema alegando discriminação àqueles que têm essa prática?

Quando a igreja age de forma homofóbica tentando prejudicar aqueles pelos quais o próprio Cristo morreu é preocupante. Jesus deixa claro que veio aos necessitados, não importando qual a condição do necessitado. Entretanto é igualmente preocupante quando a sociedade tenta alterar a fé para que se encaixe melhor aos seus interesses.

O futuro é duvidoso, mas se aqueles que confessam Jesus como Senhor se esforçarem para viver de modo digno a vocação para o qual foram chamados, haverá esperança.

sábado, 9 de outubro de 2010

O valor do arrependimento

"Existem algumas pessoas que começam sua caminhada cristã com uma onda de transformação gerada por uma poderosa revelação de Deus e, como conseqüência disso, de pecado. Desde o começo de sua experiência com Jesus, estão arrependidas de uma forma intensa. Seus pecados foram profundamente expostos e elas estão prontas, dispostas a experimentar a morte e a ressurreição de Cristo.

Esses crentes mergulharam na presença de um Deus santo e lá viram a si mesmos sob Sua luz. Esta revelação de seu “eu” e de seus pecados gerou neles um forte arrependimento, o que permite que o Espírito Santo faça Sua obra neles rapidamente e sem muita resistência. Essas pessoas progridem de uma maneira muito rápida em sua caminhada espiritual.

Praticamente todos os “avivamentos” poderosos conhecidos ao longo da história da Igreja são acompanhados por uma tremenda convicção de pecado. O resultado é um profundo arrependimento. Aquelas “visitações” de Deus trouxeram uma luz ardente que convenceu homens e mulheres de seus pecados – o erro em suas ações, palavras, etc. – e de seu pecado – a natureza de sua carne que produz tais pecados.

Aqueles que se converteram durante os tempos de visitação de Deus, quase sempre, tornaram-se tementes a Deus, pessoas santas cujo testemunho continuou forte até sua morte física.

A causa disso é a obra transformadora de Deus – a troca de Sua vida pela deles – que é grandemente facilitada em pessoas que têm um coração quebrantado, o que as leva a um arrependimento profundo.

No entanto, muitos (se não a maioria dos crentes, hoje) não são trazidos a Jesus dessa maneira. Eles não têm vindo a Ele com muita (se é que há alguma) convicção de pecado. Pelo contrário, são instigados a vir para Jesus por causa dos benefícios. Talvez estejam atrás de cura, bênçãos, soluções para problemas pessoais, prosperidade financeira ou qualquer coisa do tipo.

Muitas pessoas, em vez de buscarem ser livres do que são e fazem, procuram ajuda para continuarem vivendo como antes, só que sem tantos problemas. Estes convertidos terão pouco progresso espiritual. 

Como um destaque, gostaria de afirmar, com a máxima clareza, que a maioria das experiências chamadas de “avivamento” em nossos dias não pode fazer nada para ajudar no processo de transformação. Cair no chão, latir como um cachorro, chacoalhar, rir ou qualquer outro fenômeno como esses, não transformam ninguém. Eles não convencem verdadeiramente do pecado e, portanto, não se arrependem.

Conseqüentemente, não passam de uma perda de tempo. Pior ainda, freqüentemente, não passam de uma desilusão – uma experiência meramente emocional que muitos confundem com coisas espirituais. Tais experiências não fazem parte da obra do Espírito Santo de Deus.

Como vimos no início deste capítulo, para que sobrevivamos ao surgimento de Jesus Cristo em sua glória e poder, devemos ser transformados para sermos como Ele. Precisamos ser mudados daquilo que somos para o que Ele é. Devemos ter nossa vida trocada pela Dele.

A chave que abre o caminho para esta que é a mais necessária de todas as experiências é o arrependimento. Devemos ver o que somos e nos arrepender, clamando para sermos libertos de nós mesmos. Devemos estar dispostos a morrer para que nosso “eu” pecaminoso não viva mais e para que a vida de Jesus possa encher nosso ser por completo.

O arrependimento está diretamente relacionado à nossa transformação. Apenas pense assim: pouco arrependimento = pouca transformação; mais arrependimento = mais transformação; profundo e total arrependimento = transformação ilimitada à imagem de Cristo. Nunca devemos pensar que reconhecermos nossos pecados e nos arrependermos deles seja algo negativo. É um ato que alarga a perspectiva de uma nova bênção espiritual em Jesus Cristo."

Extraído do livro Arrependimento para a Vida, de David W. Dyer
http://www.graodetrigo.com

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A pedra que Deus não levanta


Visitando o blog de um amigo me deparei com o antigo paradoxo da pedra. Acredito que quase todos já ouviram falar nele, mas para quem não conhece: se Deus é onipotente, se Ele pode tudo, pode também construir uma pedra que não consiga carregar. Sem a pretensão de trazer a explicação final para esse tão curioso problema, postei o seguinte comentário:

Esse argumento, já antigo, tenta demonstrar que uma das características que tributamos a Deus não é possível. Logo, sendo impossível essa característica, qualquer informação a respeito de dele merece descrédito.

A problemática pode ser descrita em dois termos: se deus é uma invenção humana, ele é tão humano quanto nós e foi mal projetado. No entanto, se Ele não é humano, e criou todas as coisas, tentamos explicá-lo com características humanas; não conseguiremos.

Esse problema se estenderá não apenas as características atribuídas a Deus, mas também as suas ações, ou a falta delas. “Se Ele é Deus é onipotente, porque permite a fome, miséria, morte de inocentes, catástrofes, injustiças, crimes? Logo, torna-se sem utilidade um Deus onipotente que não usa seu poder em nosso favor, nem mesmo consegue criar uma pedra que não possa levantar.

Se Deus existe, nossas expectativas em relação a Ele são tão pessoais e egoístas que se Ele compartilha os mesmos sentimentos humanos deve se entediar. Se de fato, Ele, o criador de tudo, deixou sua forma divina (ou falta de forma visível), tornou-se humano, para relacionar-se conosco e falar acerca de sua vontade sem intermediários: profetas, sacerdotes, homens santos; e em sua onisciência nos vê preocupado com pedras deve pensar: onde foi que eu errei? Porque esse povo tornou-se tão fútil, preocupados com bobagens, sem a mínima vontade de conhecer quem os criou.

Se Ele é apenas lenda, tanto faz, pois uma nunca conseguiremos criar algo tão perfeito quanto um deus que cria todas as coisas. Sempre teremos bugs na criação, pois nos deparamos com um problema cíclico, criar alguém que tenha mais capacidade criativa do que aquele que o criou. Impossível!

Agora, com relação ao paradoxo inicial, lanço um argumento tão lógico, quanto o próprio paradoxo: Deus pode criar uma pedra que não possa levantar, mas mesmo assim Ele tem capacidade de levantá-la se desejar. Louco não?

Para os leitores, sugiro uma visita ao blog do Adriano, Inquilinos do Além: http://inquilinosdoalem.blogspot.com/. Ótimos textos.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Insanidades cristãs

Hoje recebi de duas fontes distintas uma informação bizarra: abriu-se um sex shop gospel que vende produtos abençoados um a um por meio da oração do casal de proprietários. Acho lamentável o tino comercial do povo crente, que encontra um filão para ganhar dinheiro e ainda turbina seu negócio com um marketing espiritual cada vez mais bizarro. Pior ainda é a multidão gospel, afoita por novidades, que adere sem nem mesmo pensar no assunto com um mínimo de seriedade.

Não que eu tenha algo específico contra os sex shops. Eu simplesmente não sou consumidor de pornografia, mas conhecendo o mundo como vai, deve ser um negócio lucrativo. O que me espanta é a esperteza de se usar um rótulo evangélico e atingir um público totalmente alheio a qualquer bom-senso, que além de aderir à bobagem ainda fala mal do “ímpio” (nem tão ímpio assim), que freqüenta sex shops “não cristãos”. Afinal: “todos os nossos produtos foram abençoados e toda a maldição foi quebrada”! Dá vontade de mandar pra lá, não?

Que cristianismo é esse? Que droga é essa que estão dando para esses crentes que faz com que eles engulam tanta besteira com tamanha facilidade? É sex shop gospel, é pastor que dá testemunho que teve relações íntimas com demônios, é irmão que visitou o inferno e viu o diabo posando de carcereiro, é pastor preocupado em emburrecer as ovelhas para que elas continuem a prover o luxo de seu sustento. Que droga de evangelho é esse? Sou cristão, mas vendo essa porcaria que estão pregando por ai me sinto obrigado a concordar com Karl Marx... “a religião é o ópio do povo”. Aliás, tomo a liberdade de discordar somente na droga: a religião é o chá de trombeta do povo. Quem já tomou sabe do que estou falando.

Então, levantam-se do outro lado, empunhando a bandeira da santidade, os moralistas. Cristãos tradicionais, cheio de leis morais e regras de conduta, levantando a voz contra o cisco no olho do outro e em seu próprio tem dez traves. Grande parte envolvida em pecados ocultos, adultérios, mentiras, falsidades, falta de amor, politicagem religiosa e amor ao dinheiro. Basta se aproximar um pouco desses para que a verdade seja revelada. Então perdem a moral, pois as Boas-Novas não foram suficientes para transformá-los em pessoas semelhantes a Jesus, mas em pessoas como os fariseus. Cheios de aparência, sem nenhum conteúdo; ou pior, com conteúdo: carniça! Não sei qual postura dá mais nojo.

Então o mundo assiste de camarote essa demência coletiva que se tornou o cristianismo “gospelizado”. Somos escárnio, motivo de chacota em programas humorísticos, de piada em roda de amigos. E tudo com plena razão. De um modo geral os cristãos estão se tornando um bando de alienados, massa de manobras de pessoas mal-intencionadas, de empresários prá lá de espertos, de pastores que comem exclusivamente carne de ovelhas. E tudo isso com o rótulo gospel, abençoado pelas orações, e com um toque de missão evangelística. Acordem tolos, antes que seja tarde! Olhem para Jesus, para a sua obra, sua vida. Para a vida dos apóstolos. É tão difícil perceber que tem algo errado?

Esse desabafo eu termino com um lamento: se hoje eu não conhecesse Jesus e o evangelho, NUNCA, NUNCA me tornaria cristão pelo testemunho público da igreja. Preferiria zelar pela minha sanidade mental.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Justiça ou glória?

Jesus era inocente! Seu julgamento foi injusto mesmo para a sua época; condenaram um homem inocente. Isso é fato! No entanto, pela injustiça dos homens foi manifestada a glória de Deus, permitindo que qualquer um, até mesmo eu, chegasse ao santo dos santos para conhecer a Deus de forma real e pessoal.

Muitos homens seguiram os passos de Jesus; foram injustiçados, vítimas de julgamentos comprados e comprometidos, de martírios e perseguições,  alguns perseguidos até pelos "irmãos", considerados motivo de chacota e segregados socialmente. Não tiveram direito a um julgamento justo, nem mesmo a pronunciarem sua defesa. Muitos seguiram os passos do mestre não apenas em suportar a injustiça, mas em manifestar a glória do Justo Juiz.

Deus não está preocupado com justiça que nos dá a razão, mas com a justiça que leva os homens a Sua Glória. E você, o que busca: a justiça da sua razão ou a glória de Deus?

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O reino do deus das emoções

“E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Rm.12:2

Como me entristeço ao ver a manipulação de sentimentos nas reuniões cristãs. Tanto em grandes denominações com milhares de seguidores até pequenos grupos que se reúnem em casas ou nas ruas o importante é que aqueles que assistem (como se na igreja houvessem expectadores) sejam tocados em seus sentimentos, “sintam Deus presente”, chorem, tenham uma experiência na alma, mas com ar espiritual, mesmo que saiam da mesma forma como entraram e necessitem de um novo culto para renová-los.

A manipulação vai desde as músicas, ensaiadas de antemão para levar o povo ao “clima” da reunião até a palavra preparada e executada com maestria para levar os sentimentos ao êxtase “espiritual”. Com dolo premeditado é fabricado um estado de alma sensível, um sentimento que é um misto de pesar, alegria e expectativa. Os “louvores” podem não tocar o coração de Deus, mas tocam o coração dos ouvintes, as orações tocam fundo na alma, ora prometendo grandes transformações “nessa noite”, ora levando os irmãos a uma introspecção de seu papel dentro da comunidade. Por fim a palavra, o ápice da reunião, onde os expectadores são levados em seus sentimentos ao local que o preletor desejar. Pode ser um profundo “quebrantamento” de alma, com choro e clamor ou ao êxtase coletivo e desenfreado com promessas de grandes benções e da presença de Deus.

Ao término os irmãos têm a sensação de terem sentido a presença do Deus, de serem tocados pelo Espírito e de poderem viver tudo quanto lhes foi apresentado, às vezes até as verdades do Reino. Fácil assim, como em um toque de mágica, sem arrependimento, sem renúncia nem esforço. Entretanto a volatilidade dos sentimentos não permite nada duradouro, pois ao menor sinal de provação ou lutas os sentimentos entornam e o abençoado sai dos céus para o inferno e deseja ardentemente mais daquela bajulação de alma que faz parecer que ele está tão perto de Deus. Basta uma bronca do chefe, por um trabalho mal feito (aliás, crente deveria ser exemplo em seu trabalho) ou uma divergência com o cônjuge onde nenhum dos dois quer perdoar, apesar de serem tão espirituais durante o culto, e toda a crentinice desce pelo ralo, deixando apenas a certeza que no próximo culto tudo será renovado.

Não existe transformação de entendimento, mudança de mente e confissão de pecados, tudo gira em torno dos sentimentos e das emoções. Ninguém se compromete com nada, com nenhuma mudança de caráter, com nenhum compromisso profundo com seu irmão e muito menos com o serviço ao próximo. O desejo é de alimento para a alma, sentir-se perto de Deus, ser abençoado, nem de longe passa pela cabeça ser transformado à semelhança de Jesus custe o que custar, mesmo que custe renunciar a própria vida (e custa, basta ler os evangelhos!). Não me admira que a maioria seja como o sal sem gosto, como lamparina apagada, como marionetes que enquanto o pastor as manipula durante o culto a aparência é de grande gozo e quebrantamento, mas no dia-a-dia, onde a luz deveria brilhar, o sal deveria salgar para nada mais prestam senão para envergonhar o evangelho demonstrando um caráter pior do que de ateus, descrentes e “vizinhos endemoniados”, apesar de cheios de arrogância religiosa. Não experimentam a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus, pois não é isso que buscam, mas sim serem saciados em suas próprias vontades.

Pior ainda são os líderes que aprendem a arte da manipulação de massas e se regozijam quando ao fim do culto ouvem: Nossa, o culto foi bom demais hoje! Senti a presença de Deus. Mas afinal o culto é para Deus ou para os irmãos? Não seria justo pensar se Deus gostou do culto, se o Pai das luzes se agradou do que aconteceu? Se tudo quanto foi dito, ouvido, cantado, orado cooperou com a transformação do nosso caráter ao caráter de Cristo ou apenas tocou em nosso sentimento? Parece que o pensamento comum dos líderes é: Se os irmãos não gostarem do culto, se sentirem incomodados ou forem confrontados com seus pecados eles não voltam mais! Tenho que prometer bênçãos e deixá-los dependentes de minha palavra que cura e liberta, afinal Deus quer que todos sejam felizes e eu sou se servo, chamado para trazer paz e felicidade geral. É isso que Deus quer mesmo?

Enquanto isso a igreja se cala, não é modelo de ética, santidade e pureza. Não bate na cara do mundo com seu caráter, antes demonstra um caráter coletivo interesseiro muito pior do que o dos ateus que são bons apenas pelo prazer de serem bons e éticos, não por medo de uma punição ou pelo interesse da benção. O mundo olha para a igreja e se sente superior, até mesmo mais santo, mais puro, mais honesto, pois pelo menos não vive na hipocrisia de falar que não faz, mas em oculto não apenas fazer como aprovar os que fazem e ainda ir com a cara mais lavada do mundo ao culto e condenar os que não fazem o mesmo. Hipocrisia sempre foi o pecado dos religiosos...

Que nosso Pai tenha misericórdia da Igreja e levante líderes sem interesses pessoais e comprometidos com o chamado de ir, fazer discípulos e ensiná-los o que Jesus ensinou. Que exponha os que se empenham apenas em prometer bênçãos e manipular massas para encher seus bolsos e seus egos. Que o Pai tire os comedores de carne de ovelhas e levante pastores de rebanhos comissionados pelo dono das ovelhas, dotados do zelo daqueles que cuidam das preciosidades alheias, lembrando que o alheio não é ninguém menos que Deus em toda a sua plenitude e propósito. Que os milagres feitos por esses tragam quebrantamento coletivo, não cobiça coletiva e super valorização do ego e que por fim a igreja seja a manifestação de Jesus na terra. O corpo daquele que hoje está nos céus, Cristo, manifestando sua presença entre as nações.

O engano do “ide e fazei discípulos”

Não vou abordar os eventos históricos que culminaram em uma visão equivocada sobre o que chamamos de “ A Grande Comissão”. A intenção aqui é...

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