domingo, 26 de junho de 2011

E as minhas Boas-Novas?

Percebi hoje que um dos piores efeitos colaterais do distanciamento que os cristãos têm tomado dos ensinos de Cristo não é fora de mim, é dentro. Ele tem enfraquecimento às boas-novas para minha vida pessoal. Percebi isso após iniciar uma leitura do evangelho de Matheus, em busca da visão de Cristo de Shusaku Endo, descrita no livro Alma Sobrevivente. Esse Jesus descrito por Shusaku eu já vi meio embaçado, precisava clareá-lo e verificar o quanto é verdadeiro para mim.

Ao iniciar minha leitura estava com sede de encontrar o Jesus humano, amoroso, misericordioso, compreensivo com os humildes, o homem que me inspira a viver de modo digno, a buscar algo além do conforto, da disciplina moral, do ajuste social, da aceitação pessoal e ministerial... Enfim, buscava inspiração do Espírito capaz de levar-me além de tudo que é passageiro e cessará com minha morte.

A leitura começou bem com a genealogia de Jesus pelo lado de José. É bom ver Matheus apresentar a ascendência de Jesus pelo lado do pai e não de Maria. Mostrar o parentesco de Raabe e Betseba, mulheres que não se encaixam no perfil de perfeição da época. Segui com a meditação sobre a generosidade de Jesus, permitindo-se nascer em pobreza, dificuldade, perseguição, quando na verdade ele é o próprio Deus, criador. Sua humildade ao ser reconhecido por João Batista, não negando quem era, mas afirmando que ele mesmo está embaixo de uma autoridade maior. Inspirador.

Foi quando comecei a ler sobre o ensino de Jesus que senti os efeitos colaterais que falei anteriormente. A cada exortação de Cristo eu me lembrava de líderes que se encaixam perfeitamente na descrição que Jesus fazia dos hipócritas. Homens ricos de espírito, que não choram pelo próximo, ávidos por uma briga, injustos, sem misericórdia, com coração impuro, perseguidores dos fracos. Isso só nas “bem-aventuranças”, que tratam conceitos do interior humano. Quando passei para a outra parte que a coisa ficou feia! Reconciliar com o irmão? Não lembro se já vi um líder fazer isso. Cobiçar a mulher do próximo? Isso eu já vi algumas vezes, bem como dar “carta de divórcio”. Em compensação dar a mais do que o pedido; poucas vezes. E quando Jesus fala sobre vários exemplos de exercer “justiça” publicamente para receber a admiração dos homens? Aiaiaiaiai! Veio a mente desde pastores conceituados, orando e “curando” lindamente em público, como pastores de pequenas congregações e grupos underground fazendo marketing de seus “grandes feitos” pelo Face, Orkut e Blogs. Só o fato de fazer marketing já é lamentável e se encaixa direitinho na repreensão de Jesus, o pior é que alguns relatos são mentiras deslavadas.

De alguma forma me senti privado das minhas boas-novas. Aquelas que batem forte dentro do peito, fazem lembrar Cristo, rever as próprias limitações e ter esperança que a vida é muito mais que coisas terrenas e passageiras. A última coisa que gostaria é ter essas pessoas como companheiras quando busco minhas boas-novas. Sem que eu percebesse isso se tornou comum em minha vida. Quem sabe devido à leitura de blogs apologéticos, que se levantam em defesa do “verdadeiro cristianismo”. Ou talvez por experiências com pessoas, que se diziam comprometidas comigo, mas quando chegou o momento de mostrar o compromisso fugiram, fazendo justamente tudo quanto condenavam abertamente. Não sei e no momento isso não importa. O que preciso é expulsar esses intrusos; indesejáveis que a meu convite entraram em minha vida íntima e roubam meu pão.

Estou fechando essas portas, iniciando o penoso trabalho de colocar os intrusos para fora e recuperar minhas boas-novas. Vou guardar para eles o mesmo espaço que Jesus guardava: fora de sua vida íntima e no centro de suas críticas abertas à hipocrisia. Vai ser uma luta ferrenha e silenciosa. Espero que nessa luta Deus continue me incomodando, me dando a fome necessária para que eu não me contente com bolotas de porcos, que muitos tem comido e chamado de alimento espiritual. Afinal, é pela fome de comida verdadeira servida pelo Pai, que não posso me contentar nem com porcarias, nem com privação.

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