segunda-feira, 24 de abril de 2023

O engano do “ide e fazei discípulos”

Não vou abordar os eventos históricos que culminaram em uma visão equivocada sobre o que chamamos de “ A Grande Comissão”. A intenção aqui é apresentar o conceito em poucas palavras, para uma rápida leitura, entendimento e, quem sabe, até contestação. Os comentários são abertos.

Ouvimos constantemente que devemos evangelizar nossos amigos, familiares, vizinhos e, até mesmo, estranhos pelas ruas. A obrigação de trazer novas pessoas para igreja é um dos pilares da pregação evangélica, baseado no “mandamento” de Jesus.


A QUESTÃO É QUE ISSO É UM ENGANO!

Os participantes da igreja NÃO TÊM que fazer discípulos ou evangelizar. E essa filosofia atrapalha o amadurecimento da Igreja.

Vou explicar:

Realmente Jesus instruiu o “ir e fazer discípulos”, fato relatado claramente nos evangelhos de Matheus e Marcos: 

“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” Mateus 28:19

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” Marcos 16:15


Então, por que isso seria um engano? Vamos lá.

Jesus teve diversos seguidores, não apenas os 12 apóstolos. Tanto é que após ir ao monte orar, Jesus escolheu 12 discípulos, entre os demais, e os chamou de apóstolos.

“Naquela ocasião Jesus subiu um monte para orar e passou a noite orando a Deus. Quando amanheceu, chamou os seus discípulos e escolheu doze deles. E deu o nome de apóstolos a estes doze” Lc. 6:12-13

Logo, se Jesus escolheu 12 entre os demais, havia alguma distinção entre o que Ele esperava desses 12, do que Ele esperava dos demais discípulos que O seguiam. Isso se repete em outras ocasiões, como quando Jesus sobe o monte com Pedro, Thiago e João e se transfigura. Foi uma experiência específica para os três sortudos. Podemos pinçar outros eventos similares, onde Jesus separou alguns discípulos para leva-los ou enviá-los para atividades específicas.

Lembre-se que após sua ressureição, Jesus esteve com diversos discípulos em diferentes ocasiões. Foram mais de quinhentas pessoas que estiveram com Ele.

“Eu vos transmiti primeiramente o que eu mesmo havia recebido: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado, e ressurgiu ao terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas e, em seguida, aos Doze. Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte ainda vive (e alguns já são mortos); depois apareceu a Tiago, em seguida a todos os apóstolos. E, por último de todos, apareceu também a mim”. I Co. 15:3-8

Portanto, Jesus teve tempo e ocasião para transmitir orientações para várias pessoas. Logo, a pergunta que devemos fazer é: para quem foi passada a instrução de ir e fazer discípulos?


É para a Igreja como um todo? É para todos os discípulos? Falou para uma multidão?

Uma rápida lida nos versículos anteriores ao “ide” nos dá essa resposta:

“E os onze discípulos partiram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha designado. E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” Mateus 28:16-19

“Finalmente apareceu aos onze, estando eles assentados juntamente, e lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração, por não haverem crido nos que o tinham visto já ressuscitado. E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” Marcos 16:14,15

A instrução foi para os 11 apóstolos (Judas estava morto). Os mesmos que ele separou ainda em vida. Os mesmos que ele enviou de 2 em 2, com poder sobre espíritos imundos, mesmo tendo outros seguidores disponíveis.

Então, meu caro, a ordem não é para você. Fique tranquilo! Você não precisa evangelizar, fazer discípulos, nem sentir-se culpado por não conseguir “converter” ninguém.

Acaso viu alguma orientação nas cartas de Paulo, Pedro, João, Thiago ou Judas escrevendo para as igrejas, dizendo: “Repreendam Zoroaldo, pois ele não evangeliza nem fala de Cristo para os amigos e parentes. Em anos de igreja nunca trouxe um visitante ao culto ou às células.”?

Não, né?


Mas há algum mal nisso?

Sim! Esse engano pode parecer bom; afinal ele é difundido, o que ocasiona o crescimento das igrejas e mais pessoas para o evangelho. Certo?

Errado!

Porque distorce o objetivo e a natureza da Igreja e, com isso, a impede de amadurecer nos ensinamentos de Cristo e se tornar o que deveria ser: modelo para o mundo.

Essa preocupação com o objetivo e a natureza da Igreja, e seu amadurecimento, fica claro, tanto no livro de Atos dos Apóstolos como nas cartas para as primeiras comunidades.

E qual é esse objetivo e essa natureza? Bom, isso fica para outro texto. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gostou? Comente!
Não gostou? Comente também!

O engano do “ide e fazei discípulos”

Não vou abordar os eventos históricos que culminaram em uma visão equivocada sobre o que chamamos de “ A Grande Comissão”. A intenção aqui é...

As mais lidas dos últimos 30 dias